Capela de Santo António
Rua de Santo António 7, São Marinho do Porto
Festa em honra de Santo António: 13 de Junho
A Capela de Santo António localiza-se num cabeço próximo à praia que tem por nome Morro de Santo António. Segundo consta, a origem da capela remonta à época muçulmana ou árabe, altura em que terá sido construída uma mesquita. Com a reconquista cristã, esta mesquita foi destruída e em seu lugar, construída a atual capela. Segundo a tradição, na época das embarcações à vela, as mulheres dos pescadores reuniam-se junto à capela, esperando e rezando pelo regresso dos seus maridos. Uma das lendas típicas da freguesia de São Martinho do Porto - a Lenda do Lago - está relacionada com a Capela de Santo António, refúgio e amparo dos pescadores nas horas difíceis. Certo dia de mar calmo um barco saiu para a pesca, subitamente o mar ficou embravecido e Santo António sempre vigilante, ficou apreensivo. Desceu do alto do seu nicho transformando o mar em Lago, salvando os pescadores. Assim nasce a Lenda do Lago, contada por um pescador. A lenda está escrita em verso, nuns bonitos azulejos que se encontram na parte exterior da capela.
Fonte: São Martinho do Porto Ed. Especial Junho 2019
A Lenda do Lago
N´aquela tarde calma. Fora a pesca abundante, Sant'António do seu nicho, assiste vigilante Á faina. Os pescadores largam já d'amarra E, como o mar manso, lá vão de proa à barra Alegremente em fila, o porto demandando. O leme vai na orça, velozes vão passando Na linha da ”carreira”. Em frente da capela; O Santo vai contando, um por um, vela por vela. O sol é posto já. Traiçoeiro a refrescar O vento aflige o Santo e atormenta o mar. Toldou-se o céu também, logo a terra escureceu E no regaço o Santo Jesus adormeceu. Já nas ondas envergam os novelos d'espuma Mas, na conta das velas, inda falta uma! Nos lábios d'António, trémulos d'amargura Alguma praga ao mar, entre as preces se mistura. Um ponto branco, ao sul, lá longe entre a procela, Traz rumo aproado, à alvura da capela. O bom do Santo ao ver, esse asa de gaivota Que, tão audaz procura. A linha da derrota, Empalidece, e treme, temendo-lhe o destino. Não se atreve porém a acordar o seu Menino. E murmura: ”Jesus, Senhor! A vaga é tão alta” ”E aquela vela é, a mais pequena que me falta” Enquanto dura a luta, entre o mar e a vela António nota já, não ser deserta a capela. Uma pobre mulher, nos degraus ajoelhada Cinge contra o seio, uma cabecita dourada; No seu ardente olhar e nos olhos da criança, O ponto branco brilha, como um farol d'esperança E o pescador afoito, aproa sempre a vela Ao vulto da mulher, à brancura da capela. O mar redobra a fúria, e um leão rugindo E tranquilo Jesus, no regaço vai dormindo; Mas avistando o pano, roto já p'la rajada A cabecita d'ouro exclama apavorada: "Ó mãe? Ó minha mãe?” "É o meu pai, que lá vem?! "N'isto; o Menino acorda e mui mal humorado, O aio santo increpa, de sobrolho carregado; "O que foi isto António?” - "Quem foi que se atreveu? "O Santo aponta a medo, a vela, o mar, o céu. Nos olhos da mulher, onde a vela é agravada Uma lágrima... Uma pérola pendurada. Desvairado ao vê-la, implora Sant'António: "Senhor... fazei bonança... O mar é um demónio... ” Jesus serenamente, do nicho então desceu, Com uma mãozita em concha, a pérola colheu, O seu rosado braço, enérgico balança E às ondas infernais, a humilde jóia lança. Depois... sorriu ao Santo com divino afago E no mar, defronte da capela, fez-se um ”lago”. Um Pescador